Literatura Negra
Rodas de leitura para fortalecer a cultura negra
Projeto Kilombo Literário, desenvolvido em São Lourenço do Sul, buscar dar protagonismo a escritores negros
Divulgação -
Palavra do idioma Kimbundo, do Noroeste da Angola, "Kilombo" significa fortaleza ou povoação. Em São Lourenço do Sul, a palavra inspirou o "Kilombo Literário", projeto da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) que busca difundir a cultura negra através de rodas de leitura de autores negros. Os encontros, que no início eram virtuais, agora acontecem de forma presencial, dentro do Campus da Furg no município, em escolas e também em comunidades quilombolas.
Segundo o coordenador do projeto, o professor da universidade, Rodrigo Pereira, a ideia que deu início ao projeto surgiu no final do seu doutorado, em conjunto com duas outras estudantes de mestrado que viam a necessidade de discutir a literatura afro-brasileira. "Aqui no Brasil nós temos uma produção literária negra de muita qualidade, mas que muitas vezes não recebe a visibilidade necessária. Nós queríamos juntar forças para pensar uma estratégia, para pensar em formar um público leitor e promover essa literatura", pontua.
O projeto começou em 2019, em Rio Grande, mas já no ano seguinte migrou para São Lourenço. Ainda em seu primeiro ano, foram realizadas rodas de leituras através de encontros virtuais, semanalmente, o que ocasionou a participação não apenas de estudantes, mas também de outros jovens da região e de outros lugares do país. Já em 2022, a Furg retornou as atividades presenciais e o projeto, por consequência, retomou suas reuniões.
Para atender todos os públicos a iniciativa adotou o modelo híbrido. Todas as sextas-feiras, no campus da universidade, ocorrem as rodas presenciais, abertas ao público. Além destas, o Kilombo Literário também passou a apostar em encontros online e idas a escolas e a quilombos da região. "Nós tivemos uma boa receptividade, muita participação da comunidade, do pessoal do entorno de São Lourenço do Sul. Por ser virtual, alcançamos um público de todo o Brasil", conta o professor.
Protagonismo
Atualmente, todas as bolsistas à frente do projeto são negras. Uma delas é a griô e estudante do curso de Educação do Campo, Ana Teresa Santana. Quilombola da Coxilha Negra, no 6º distrito do município, ela conta que começou no projeto como participante das rodas de leitura e, com o tempo, passou a se envolver cada vez mais. "Outra menina do quilombo me convidou para participar das rodas e eu acabei me interessando muito por já ter liderado o movimento de consciência negra. E eu, como sou quilombola, fui me envolvendo bastante, até virar bolsista", relata.
Para cada roda o grupo escolhe um conto de um autor negro para que os participantes façam uma leitura compartilhada. Ana Teresa explica como é feita a escolha dos contos. "Nós damos preferência para dar visibilidade a escritoras pretas, porque elas vão falar dos seus mundos, das suas vivências. Mas se vamos na escola ou em quilombos, escolhemos histórias adequadas para aquele local. Às vezes nós temos convidados, que nos ajudam a tratar sobre um tema. A ideia é levar, com essa leitura, um aprendizado."
Além de formar leitores, a griô acredita que as leituras compartilhadas em escolas e quilombos permitem a eles uma autodescoberta. "A gente espera que as pessoas passem a acreditar mais em si, que possam se descobrir, além de leitores, escritores. Todos nós podemos escrever. A nossa história sempre foi contada pelos outros, então é a nossa vez de contar a nossa história", anseia Ana Teresa.
O professor Pereira acredita também que o projeto tenha sido um ponto fundamental de incentivo para os alunos. "O Kilombo Literário fez muita diferença na vida de alguns estudantes. Teve uma que estava muito desmotivada, se sentindo não pertencente ao espaço acadêmico, e no momento em que ela conheceu o Kilombo e passou a se envolver, a vida acadêmica dela mudou. Gerou uma motivação e ela conseguiu concluir o curso. Então vai muito por aí, de gerar pertencimento, de ser um espaço de encontro e acolhimento", finaliza.
As rodas presenciais ou virtuais são abertas ao público. Interessados em participar podem conferir as redes sociais do projeto - Instagram e Facebook - acessando @kilomboliterario.
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